Esta é a segunda parte de uma série sobre saúde mental e tecnologia. Você pode ler a primeira parte aqui.
🧠 pensando bem
reflexões que me ocorreram essa semana
Pela primeira vez na história, todas as gerações estão nas redes sociais. Isso é o que diz o relatório “Vem aí na Creator Economy 2024” da agência YouPix, especializada em mapear o mercado da criação de conteúdo online.
De idosos a crianças, hoje em dia, todo mundo tem uma rede social pra chamar de sua. Apesar disso, milhares de pessoas relatam que se sentem sozinhas, sem amigos ou relacionamentos mais profundos, o que contribui para o sentimento de isolamento, tristeza, ansiedade e desesperança.
◾
Por que estamos sozinhos na multidão?
A internet nos permite acompanhar o trabalho e a rotina de dezenas e até centenas de pessoas das mais diversas, porém toda essa conectividade representa um verdadeiro desafio para o exercício da empatia.
O psicólogo e pesquisador Daniel Goleman, no livro Foco, explica que a empatia é um fenômeno complexo do nosso cérebro. Existe a empatia cognitiva, que é a capacidade de compreendermos o estado mental de outra pessoa, de entendermos sua perspectiva; a empatia emocional, pela qual nos unimos à outra pessoa e sentimos junto com ela; e a preocupação empática, que faz com que a gente se mobilize para ajudar se for preciso.
“Essa atitude compassiva se forma numa parte profunda do cérebro, nos sistemas primários de baixo para cima vinculados ao afeto e ao apego, ainda que eles se misturem com circuitos mais reflexivos, de cima para baixo, que avaliam o quanto valorizamos o bem-estar alheio”. (Capítulo 10, ebook Kobo)
O desafio surge porque todo esse circuito cerebral foi projetado para interações frente à frente. Por isso, a internet representa um desafio adicional para nós. É preciso um grande esforço cognitivo para exercitarmos a empatia com pessoas que nós não conhecemos pessoalmente.
Sabe aquela história de que a maioria dos haters não teria coragem de dizer “cara a cara” o que eles escrevem nas redes sociais? É por aí… Ao vivo e em pessoa a história é outra.
Nesse cenário, é fácil entender por que muitas pessoas têm dificuldade em estabelecer conexões verdadeiras pela internet, especialmente se elas se sentirem solitárias e estiverem buscando conforto emocional, como já é uma prática de 32% de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos, segundo dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Uma palavra, uma foto, uma ideia podem gerar uma avalanche de comentários maldosos, isolando e ferindo quem já não anda bem.
◾
Há esperança?
Desde o ano passado, tem acontecido um movimento para tornar as redes sociais mais sociais, com os usuários buscando conteúdos mais autênticos e naturais, menos “marketeiros” e mais humanos.
Muita gente já entendeu que precisa ser mais pró-ativa e intencional no uso das redes, não deixando todo o trabalho de curadoria para o algoritmo. Não se trata de abandonar as redes, mas de repensar nossa atuação online.
Nessa perspectiva, deixo aqui 3 ideias que podem nos ajudar:
Uso ativo. Ao invés de consumir passivamente os conteúdos de milhares de pessoas, que tal selecionar aquelas que mais se alinham a você e iniciar conversas com elas? Os campos de comentários e DMs não existem só pra engajamento. Existem para as pessoas se comunicarem e comunicação é uma via de mão dupla.
Lembre do humano. Por trás de cada tela, há uma pessoa. Ao falar com ela, imagine o que (e como) você falaria se ela estivesse na sua frente.
Promova o que vale ser promovido. Sempre que surge um escândalo com um grande influenciador, as pessoas se perguntam como aquela pessoa conseguiu tanta visibilidade. Ela consegue porque há quem a apoie. Então, te convido a usar o seu apoio, o poder da microinfluência, para promover pessoas e empresas que merecem ser reconhecidas e valorizadas. Se você descobriu pessoas legais naquelas conversas do ponto 1, que tal compartilhar com alguém que pode gostar, também?
A gente pode criar uma internet mais humana e comunitária, um perfil de cada vez.
🔎 curadoria
conteúdos legais que eu vi, li ou ouvi e recomendo
🎬 Você costuma coçar os olhos? Este vídeo do professor Jubilut me deixou atenta aos riscos da prática.
📖 Foco, de Daniel Goleman, é um livro para quem quer entender como funciona nosso mecanismo de atenção. É um texto mais técnico, mas vale a pena o esforço da leitura.
🎧 As redes sociais estão menos sociais?, do podcast Café da Manhã, da Folha de São Paulo, discute alguns assuntos relacionados à news de hoje.
📱 você viu?
resumo das redes
No YouTube do Estoicismo Antigo, mostrei 5 livros para quem quer começar a conhecer essa filosofia.
Primeiras impressões da leitura de Dom Casmurro: