# 68 | E como fica a saúde mental das crianças e adolescentes?
Saúde mental na era da tecnologia, parte 4
Esta é a última parte de uma série de 4 posts sobre saúde mental e tecnologia. Você pode ler as anteriores aqui:
#65 | É TDAH ou seu cérebro está superestimulado?
#66 | Estamos mais solitários?
#67 | Famosos anônimos
🧠 pensando bem
reflexões que me ocorreram essa semana
Nos últimos dias, representantes das principais redes sociais, como Instagram (da Meta), X (antigo Twitter), Discord e TikTok participaram de audiências no Congresso dos Estados Unidos para tratar de um tema tanto delicado quanto necessário: a saúde mental de crianças e adolescentes que usam as redes sociais.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, chegou a pedir desculpas aos pais presentes pelos prejuízos que as redes sociais da empresa causaram aos filhos deles.
Na União Européia, já existem algumas leis que regulamentam as redes e, no Brasil, há um debate, ainda muito superficial, sobre regulamentação e responsabilização das redes sociais sobre conteúdos falsos ou prejudiciais.
Se, por um lado, é necessário que os governos discutam o tema e cobrem as empresas, por outro, quero te convidar a pensar na nossa parcela de responsabilidade pelo uso das redes.
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Nos Estados Unidos viralizou uma trend de meninas, entre 10 e 13 anos “invadindo” a Sephora, uma loja de cosméticos, para mostrar e comprar produtos de skincare. O resultado disso são centenas de vídeos no TikTok, na trend “Sephora kids”, dessas meninas “ensinando” como mantém a pele bonita e saudável, com produtos inadequados à sua idade, incluindo cremes antirrugas.
A situação é bizarra e perigosa.
Alguns estudos têm mostrado que as meninas - crianças e adolescentes - sofrem pressões diferentes dos meninos nas redes sociais. Apesar de serem muito jovens, elas já se sentem cobradas pela sua aparência física, numa época em que seus corpos ainda estão em formação e que seus cérebros não estão amadurecidos.
Se já é difícil para nós, adultos, lidarmos com as comparações nas redes sociais, imagine o impacto disso para uma pessoa em formação!
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Engajamento negativo ainda é engajamento
Para além de nos espantarmos com essa situação, te convido a repensar o engajamento que damos a esse tipo de conteúdo. Desde cedo, as crianças estão expostas na internet e, não raro, algumas acabam viralizando por motivos que podem ser nocivos a elas agora ou no futuro.
A criança que vira meme hoje será um adulto procurando emprego amanhã. Será que ela terá as mesmas oportunidades (e o sossego necessário) para crescer e se tornar um adulto saudável?
Lara, que virou meme pela frase “já acabou, Jéssica?” virou alvo de bullying, abandonou a escola e passou a se cortar depois de ter viralizado aos 12 anos. É isso que queremos para nossas adolescentes?
Talvez, você esteja lendo isso e pensando “mas eu não curto essas coisas, só compartilho para criticar”. Mas aí, eu quero te lembrar a lógica do algoritmo: engajamento negativo ainda é engajamento e faz o conteúdo ser entregue pra mais gente.
Quando você assiste a um vídeo da trend Sephora Kids no TikTok, dá dislike num vídeo do YouTube ou compartilha um reel absurdo nos seus stories do Instagram - mesmo quando você faz tudo isso pra criticar alguma coisa - você está dando engajamento ao conteúdo e ajudando a torná-lo viral, mesmo sem querer. (Reparou que eu só coloquei link de sites de notícias e não dos conteúdos originais aqui?)
O problema é grande, a solução não é simples, mas eu acredito, profundamente, que nós podemos usar nossa rede de microinfluência para fazer a diferença.
💬 Se você quiser continuar essa conversa nos comentários, eu vou adorar. Qual é a sua perspectiva sobre esse assunto?
🔎 curadoria
conteúdos legais que eu vi, li ou ouvi e recomendo
💻 Vídeo da Ana Bonassa (Nunca vi 1 cientista) esclarecendo o que é mito e o que é verdade sobre o famoso jejum de dopamina.
📖 Em fevereiro, eu vou ler Felicidade conjugal, de Tolstói, com o Clube do Livro. É uma novela curtinha e deliciosa de ler. Você pode conferir na edição da Todavia ou na Editora 34.
📱 você viu?
resumo das redes
No Instagram, fiz um post sobre como eu faço anotações de leitura:
Assisti um vídeo (em inglês) que fala exatamente sobre essa era de solidão perante o avanço das redes e as mudanças de geração, e cita isso das meninas da Sephora: https://youtu.be/KqjpuUJQFcM?si=f_2bxahLnU1HE7jg
É um vídeo longo, mas se você tiver um tempinho... Aliás, gostei demais dos teus levantamentos e me fez questionar e ressignificar esse lugar de troca que são os comentários! Grande abraço e sucesso.